2008-09-11

Graffiti e caca de cão – Parte II

Desagrada-me sobremaneira o modo como certas ruas da minha cidade (Lisboa) estão periodicamente pavimentadas a caca de cão. A escolha de “periodicamente” não é casual. De facto, quando comecei a pensar em escrever estas linhas, deparei-me, no decorrer da semana, com uma verdade insofismável: as nossas ruas estão cobertas de caca de cão. Todavia, ontem, ao percorrer parte da Baixa, da 24 de Julho e mais tarde da colina do Castelo, verifiquei, com moderado espanto, que a maior parte da caca do dia anterior não estava lá. Ora esta experiência vinha confirmar a minha suspeita: de tempos a tempos as ruas são varridas (e menos frequentemente lavadas) arrastando para as sarjetas os ditos excrementos de canídeos. Não consegui ainda registar a periodicidade dos ciclos entre permanência e remoção dos ditos, embora possa assegurar, que no bairro onde vivo, a sua intermitência é penosamente longa.
Regressado há algumas semanas de Nova Iorque, não posso deixar de registar a impressão absolutamente positiva que me deixaram os amantes locais do “maior amigo do homem”. Numa cidade gigantesca, sob um calor tórrido e abafado, em constante azáfama e em que os serviços de limpeza urbana se desunham para manter a polis dignamente salubre, não vi caca de cão fora dos locais onde ela deveria estar sempre: no lixo. Observei atentamente os animalia e sempre que um se posicionava a jeito, agachando-se, temia o pior. Todavia, do mais humilde proprietário do rafeiro preso por um cordel, à elegante senhora saída da canção dos Simon and Garfunkel (Mrs. Robinson), que desfilava dois bem escovados terriers, todos se agachavam, praticamente em simultâneo com os seus “amigos”, para imediatamente removerem a excrescência ainda fumegante. Bravo! Bravo! Apetecia-me aplaudir. Mas tratava-se afinal de um gesto rotineiro, destituído de grandiloquência, mas eficaz, digno, verdadeiramente pragmático, enfim, útil. Pensei na altura, como era bom percorrer as ruas de Manhatan, descontraidamente, de nariz no ar, mirando os cumes dos edifícios – verdadeiros monumentos – sem a preocupação constante de por os olhos no chão, não fosse … todos sabemos o quê. Imaginei os magníficos passeios da minha cidade, pavimentados a calcário branco e preto, lavados a escova (há máquinas para isso), reluzentes, impolutos, para logo a seguir acordar do devaneio e colocar os olhos no chão, não fosse … Voltado à realidade, percorri algumas ruas de Lisboa (a segunda foto acima foi tirada anteontem numa rua do Bairro Alto) para apenas confirmar que tudo continuava como sempre fora. Vale a pena no entanto determo-nos no programa “Lisboa Limpa” da Câmara municipal de Lisboa, e nos seus esforços, supostamente pedagógicos e informativos e claro está, muito ineficazes. Cartazes, folhetos, autocolantes, campanhas publicitárias radiofónicas, televisivas e outras, distribuição gratuita de sacos de plástico para remoção de dejectos (vulgo, “caca de cão”), criação de locais expressamente concebidos e engenhosamente desenhados para a função, foram todos ensaiados. Então por que não são evidentes resultados mais satisfatórios? Por que os “amigos” destes animais teimam em ignorar as regras mais básicas de civilidade e o respeito pelo espaço público. Claro está, que se perdessem algum tempo a “educar” as criaturas de quatro patas, todos nós beneficiaríamos. Os próprios animais, que não são parvos, cedo saberiam que só teriam a ganhar se fizessem as suas necessidades nos espaços adequados, pois teriam direito a recompensas - não atafulhando-os de iguarias - mas fazendo-lhes festas ou lançando-lhes cúmplice e amigo, revelando reconhecimento. Caso contrário: castigo. Claro está que o acto seguinte ou mesmo simultâneo seria o de retirar o “presente” e isso, como sabemos, cabe ao “dono”.
Interessante: CML -  Osteonline - Dog souvenirs - Remoção

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