
Elevational Mass, 2006, Aço, 152.4 x 213.4 x 182.9 cm
Porque será que Richard Serra nunca recebeu uma encomenda da Tate Modern para produzir um trabalho site specific destinado à grande nave da turbina? A pergunta é dirigida por Adrian Searle (crítico de arte do Guardian) a Richard Serra, numa das raras entrevistas concedidas pelo escultor americano nas vésperas da inauguração da sua exposição da Gagosian Gallery, em Londres. Serra responde: “eu não digo nada, mas fico satisfeito que você coloque a questão”.
Seguem-se alguns excertos da entrevista que pode ser lida na totalidade na edição do Guardian online (5 Out 08):
“Não me considero um artista político, mas tudo aquilo que possa contribuir para fazer a diferença, farei. A América é um país de direita e eu sou essencialmente da velha esquerda.”
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“Tenho uma certa obstinação, um certo voluntarismo que me arranjou problemas, mas que também me tem ajudado “.
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Acerca da peça de Serra que recebeu o título “Fernando Pessoa”, Adrian Searle adianta: “há qualquer coisa de Orwelliano nesta peça, embora tenha sido intitulada em honra do escritor português, autor do Livro do Desassossego [Serra] diz que a relação é tangencial: o [escultor] estava a ler o livro enquanto fazia a peça, avisando que “não se deve ler demasiado nos meus títulos.” Searle recorda que no passado o escultor já dedicara trabalhos a Charlie Chaplin e a Buster Keaton, ao realizador alemão Rainer Werner Fassbinder e ao crítico de arte David Sylvester). O entrevistador reconhece que a peça de Serra é poderosa; numa alusão a fundições e a estaleiros navais, ao Muro de Berlim e à grande divisória construída pelos israelitas que serpenteia pelos territórios palestinianos. Searle alerta-nos para o facto de tudo isto poder causar consternação a todos aqueles que preferem que a arte tenha a ambição de elevar o espírito.
Para Serra “a função da arte não é ser agradável”, acrescentando polémica com a declaração: “a arte não é democrática. Não é para o povo”.
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"Kill Serra" (Matem Serra). As pessoas ameaçavam que queriam matar-me. Eu fazia arte em Nova Iorque. Isso é um pouco extremista, não acha?”
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“Foram certamente as curvas”. Quando mostrei pela primeira vez Torqued Ellipses, há dez anos, em Nova Iorque, havia o sentimento que as pessoas reagiam ao trabalho de forma diferente. As pessoas reagiam de forma diferente às curvas do que tinham reagido às linhas rectas. Era inédito. O Modernismo foi o ângulo recto; todo o século XX foi o ângulo recto.”
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“Cresci pobre mas o ambiente era rico. Parecia que havia sempre discussões políticas lá em casa; debates sobre que tipo de vida que devia ser vivida. O lugar de onde vens confere significado ao que fazes. Julgo que foi assim para mim. Sou obstinado, disso tenho a certeza.”
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Insiste: “As pessoas estavam preparadas para as formas curvas”
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“Eu era ainda muito jovem, tentava ser pintor, quando fui a atingido de forma fulgurante. Demorei-me na sua apreciação [Las Meninas] até que percebi que eu era uma extensão do quadro. Uma verdadeira revelação. Nunca tinha visto nada igual, o que me fez pensar sobre a arte e sobre o que estava a fazer, de uma forma radicalmente diferente. Mas primeiro, lançou-me num estado de total confusão.”
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“No meu trabalho mais tardio, a pessoa que navega no espaço, a sua experiência torna-se conteúdo. Então, toda a relação sujeito-objecto é invertida. O conteúdo é você! Se não caminhar na direcção do trabalho e interagir com ele, não existe conteúdo. Foi exactamente com isso que eu tive que lidar a partir do momento em que vi pela primeira vez o quadro de Velasquez.”
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“Os bailarinos foram os mais radicais. Ensinaram-me mais sobre espaço, movimento e gravidade do que quaisquer outros.”
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A propósito da exposição no Grand Palais, Paris (2006):
“Meu caro, isso foi andar na corda bamba. Não havia forma de disfarçar o que fosse. O espaço era grandioso. Não sabíamos se a peça ia funcionar até à instalação da primeira placa. Foi uma das experiências mais gloriosas de toda a minha vida, quando me apercebi que funcionava. Foi talvez a primeira vez em que pensei que havia feito algo melhor do que eu próprio enquanto pessoa.”
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