2008-10-21

O estado de Lisboa

Louis-Michel van Loo e Claude-Joseph Vernet, Retrato do Marquês de Pombal, 1767, óleo sobre tela. Oeiras, Palácio dos Marqueses de Pombal, Oeiras
Confesso que ia escrever exclusivamente sobre a Baixa de Lisboa e o seu deplorável estado de conservação, quando li no Expresso online o artigo de Miguel Sousa Tavares "Assalto a Lisboa" sobre a projectada “invasão” de contentores no porto de Lisboa, junto a Alcântara (20 Out. 2008). Entretanto, senti-me tal como muitos dos leitores (ver comentários) arrebatado, como que disposto a partir para uma qualquer luta em defesa dos interesses da minha cidade, que é afinal o mesmo que defender os interesses dos que aqui moram, que aqui trabalham ou que por aqui passam, e são muitos milhões todos os anos. Seria uma resposta às perguntas que MST formula já no fim do artigo a título de provocação: “É assim que se trata de Lisboa. É ou não é escandaloso? E o que fazemos, ficamos quietos?”. O que vemos afinal? A degradação, a indiferença, aliadas a uma espécie de libreto de opera buffa, em que da decadência, sem retorno, nos acenam com projectos e mais projectos, de tantos milhões, que não conseguimos digerir a sua bondade e alcance. Tal como para a Baixa, também para a frente ribeirinha, para Alcântara, para o Campo das Cebolas e Santa Apolónia, desenham-se novas formas de cidade. Desenhos que o tempo já viu esfumarem-se, sem concretização, sem fôlego, toldados pelo lodo, como no Cais das Colunas. As palavras de MST parecem magistrais, pela aturada investigação, pela identificação dos personagens, entidades e interesses em jogo, pelos sinais de alerta, que aliás começam a ter ecos nos vários comentários políticos tanto em blogs como em jornais (cf. Mário Soares, in DN online, 21.10.08). Alertar, apontar o dedo, criticar e apresentar soluções é o que se difunde com mais agudeza e rapidez. Todavia faz-nos falta o poder de congregar essas vozes e fazê-las ouvir por quem é eleito com os nossos votos. Tornar a massa crítica de quem levanta problemas e identifica compadrios, num movimento temível, por que esclarecido na sua vontade de que se faça o melhor pela sua cidade, por todos afinal. Julgo que é isso que move muitos de nós a escrever. Mas penso também que faz falta a acção mobilizadora de criar obstáculo à transgressão, à incompetência, ao erro.

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