
Confesso que estive muito tentado a assinar a petição online que dava conta da “injustiça” cometida com Maria Keil e os seus painéis de azulejos destruídos pelo Metropolitano de Lisboa. É difícil não seguir o apelo daquilo que consideramos justo, sobretudo se o infractor for uma entidade, mais ou menos poderosa, um tanto parda, na medida em que temos dificuldade em materializar a identidade dos seus responsáveis, sejam eles conselhos de administração, presidentes ou CEO(s). Ainda por cima a artista Maria Keil, senhora que já ultrapassou os 90 anos, figura que granjeou a nossa simpatia colectiva, através das suas ilustrações (muitas delas para livros infantis, que “formataram” muito do nosso imaginário) e da presença na cidade de muitos marcos daquilo que hoje se escolheu designar de “arte pública”, tornaria ainda mais válida a nossa repulsa por tão vis actos e afrontas. Sei que referir tudo isto depois da notícia vir a lume este sábado, no Expresso, parece um exercício de oportunismo e petulante clarividência. Confesso que não é. Antes de Maria Keil ter destruído a polémica – ela que nem foi consultada pelos autores da petição – sobre a história dos azulejos, da sua destruição, da forma como não teria sido compensada, etc., procurei documentar-me sobre o assunto. Ao fazê-lo, foi-me dito que o assunto estava ultrapassado há anos. Pude mesmo constatar que o próprio Museu do Azulejo é detentor dos desenhos que a artista concebeu para a execução dos famigerados painéis e que nunca houve um “caso” levantado por Maria Keil: “Em que mundo é que vivemos, que põem coisas assim na internet sem falar com ninguém?” (Maria Keil, in Expresso, 27-09-08). O que podemos retirar de tudo isto? Em primeiro lugar, o método: blogs e mails funcionam como rastilhos, bastando para isso lançar suspeitas, o resto é feito pelos próprios nautas, que se encarregam da propagação, muitas das vezes, automaticamente, sem mesmo ler o correio recebido; e em segundo lugar, o conteúdo: chega-nos um pouco de tudo, apelando à costumeira sinergia de grupo, maioritariamente acrítica, empolgando-se por causas “públicas”, ao alcance de um qualquer indicador, naturalmente acéfalo.
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